Corrupção - um conceito problemático.

Um dos riscos inerentes ao conceito de corrupção diz respeito à tendência a se projetar para o passado as acepções atuais desse conceito. Muito já se falou sobre o passado como terra estrangeira. No caso de uma história da corrupção, essa exigência é ainda maior - e talvez mais difícil de ser atendida. Mas isso não deve nos afastar desse objeto. Devemos deixar de lado as nossas concepções sobre a corrupção e adentrar no passado em busca de suas próprias definições, usos e sistemas de valor. Esta é a primeira tarefa do historiador: rastrear o conteúdo que se emprestava à palavra corrupção, verificar os seus usos, identificar as suas ocorrências, mapear as origens semânticas... Enfim, um trabalho que exige passar em revista os dicionários da época (não só em português, mas também francês, inglês, espanhol, italiano), consultar a literatura médica, os tratados político-morais, os textos sobre as línguas e seus usos, investigar os escritos latinos (gregos e romanos)... Esta etapa fornecerá, por assim dizer, os fundamentos sobre os quais se estruturará a análise dos usos e práticas relativos à palavra corrupção na Época Moderna.

Objetivo deste Blog

Este blog tem por objetivo atuar como um fórum de debate acadêmico sobre temas relativos à história da corrupção na Época Moderna. Ele pretende reunir estudantes, pesquisadores e estudiosos que se interessem por este objeto de investigação. Nos últimos anos, tenho desenvolvido pesquisa na área e estão em fase de edição dois livros sobre o assunto. Espero também atrair o interesse de estudantes dos cursos de História e Ciências Sociais, e auxiliá-los na definição de objetos de pesquisa nessa área.

Programa da Disciplina - Corrupção na colônia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FAFICH - DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DISCIPLINA OPTATIVA: CORRUPÇÃO NA COLÔNIA 2015/2 PROFA. ADRIANA ROMEIRO (adriana.romeiro@uol.com.br) EMENTA: Esta disciplina pretende refletir sobre a prática de delitos que caracterizavam a corrupção, no cotidiano da burocracia colonial. Tendo como ponto de partida a problematização do uso do conceito de corrupção para as sociedades do Antigo Regime, serão analisados os estudos mais recentes sobre a administração na América Portuguesa, entre os séculos XVI e XVIII, focalizando a questão da autonomia dos poderes locais e as suas implicações na práxis dos funcionários coloniais. O objetivo desta disciplina é enriquecer o debate sobre a dinâmica do Império português, trazendo à luz a tensão entre as diretrizes morais e jurídicas que deveriam pautar a conduta dos governantes e a realidade efetiva da atuação deles, no contexto colonial. CARGA HORÁRIA: 4 horas, 4 créditos. HORÁRIO: quarta-feira, das 13:30 às 17:10 horas. AVALIAÇÃO: Prova, Trabalho Escrito e Seminário. Horário de atendimento aos alunos: quarta-feira, das 17:20 às 19:30 horas. 1. Amor e amizade na Época Moderna HESPANHA, Antônio M. & XAVIER, Angela Barreto. As redes clientelares. MATTOSO, José (dir.). História de Portugal. Lisboa: Estampa, 1993, Quarto volume: O Antigo Regime. CARDIM, Pedro. Amor e amizade na cultura política dos séculos XVI e XVII. Lusitania Sacra, 2ª. série, 11, (1999). In: http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4355/1/LS_S2_11_PedroCardim.pdf Cícero, Diálogo sobre a amizade. In: http://www.psb40.org.br/bib/b7.pdf FEROS, Antonio. Clientelismo y poder monárquico en la España de los siglos XVI Y XVII. Relaciones, 73, inverno 1998, vol. XIX. Disponível em: http://www.revistarelaciones.com/files/revistas/073/AntonioFeros.pdf 2. Poder e administração na Época Moderna WEBER, Max. Ensaios de Sociologia (5ª ed.). Rio de Janeiro, Guanabara, 1982. FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. In FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982, p. 277 a 293. HESPANHA, Antônio. As estruturas políticas em Portugal na Época Moderna. Disponível em: http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/amh_MA_3843.pdf PORFÍRIO JÚNIOR. Os conselhos de Dom Quixote a Sancho Pança para o governo da ínsula barataria: ecos dos “espelhos de príncipe”. Monografia. UNICAMP, 2013. Disponível : http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=55875 BRUNKE, José de la Puente. Codicia y Bien Publico - los ministros de la Audiencia en la Lima seiscentista. Revista de Indias, 2006, v. LXVI, n. 236. Disponível em: http://revistadeindias.revistas.csic.es/index.php/revistadeindias/article/viewArticle/363 Sanz Camañes, Porfirio. El sentido del deber, patronazgo y lealtad: el Conde de Gondomar en Londres. Libros de la Corte.es. Monográfico 1 (2014): 319-336. Disponível em: http://sigecahweb.geo.uam.es/ojs/index.php/librosdelacorte/article/viewFile/80/101 3. Legislação e estratégias de controle BARRIOS, Rafael Bellón. Reflexiones sobre la figura del regidor en el siglo XVII: a propósito de El perfecto regidor, de Juan de Castilla y Aguayo. Biblioteca SAAVEDRA FAJARDO de Pensamiento Político Hispánico. Disponível em: http://www.saavedrafajardo.org/Archivos/NOTAS/RES0092.pdf LA HERA, Maria José Collantes de Terán de. El Juicio de residência em Castilla a traves de la doctrina jurídica de la Edad Moderna. Historia. Instituciones. Documentos, ISSN 0210-7716, Nº 25, 1998, págs. 151-184. Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/autor?codigo=130974 ROMEIRO, Adriana. Governadores-mercadores: considerações sobre o enriquecimento ilícito na América portuguesa. In LUZ, Guilherme Amaral; ABREU, Jean Neves; NASCIMENTO, Mara Regina. Ordem crítica — a América Portuguesa nas ‘fronteiras’ do século XVIII”. Belo Horizonte: Editora Fino Traço, 2013. 4. O conceito de corrupção - desafios teóricos e metodológicos PIETSCHMANN, Horst. Corrupción en las Indias Españolas - revisión de un debate en la Historiografía sobre Hispanoamérica colonial. In: PIETSCHMANN, Horst et alii. Instituciones y corrupción en la Historia. Valladolid: Universidad de Valladolid, 1998. ARANCIVIA, Eduardo Torres. El problema historiográfico de la corrupción en el antiguo régimen : una tentativa de solución. Summa Humanitatis. Vol 1, No 0 (2007). Disponível em: http://revistas.pucp.edu.pe/index.php/summa_humanitatis/article/view/2284 ROMEIRO, Adriana. A corrupção na sociedade colonial – uma aproximação. In DIAS, Renato da Silva (org.). Repensando o político — poder, trabalho e identidades. Montes Claros, Editora Unimontes, 2012, pp. 35-56. 5. Corrupção, moralidade e fé COUTO, Diogo do. Observações sobre as principaes causas da decadência dos portugueses na Ásia, escritas por Diogo do Couto, em forma de diálogo com o título de Soldado Prático, publicadas de ordem da Academia Real das Sciencias de Lisboa por Antonio Caetano do Amaral. Lisboa: Officina da Academia Real das Sciencias, 1790, p. XII. Disponível em: Arte de furtar, espelho de enganos, theatro de verdades, mostrador de horas minguadas, gazua geral dos Reynos de Portugal. Offerecida a ElRey Nosso Senhor D. João IV, composta no anno de 1652, pelo padre Antonio Vieyra, de novo reimpressa e oferecida ao Ilmo. Sr. F.B. Targini, ex-thesoureiro mor do Erário do Rio de Janeiro. Londres: T.C. Hansard, Peterborough-court, Fleet-street, 1821, p. 404 Vieira, Antônio. Sermão da Visitação de Nossa Senhora. Disponível em: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/0006-02072.html Vieira, Antônio. Sermão do Bom Ladrão. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000025pdf.pdf GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas Chilenas. Disponível em: Disponível : http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000293.pdf 6. Corrupção: repressão e dissimulação. FOUCAULT, Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel. Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987. Capítullo 1 (Segunda Parte): “A punição generalizada”, pp. 69 a 82 (não é todo o capítulo). HESPANHA, Antonio. Da “Iustitia” a “disciplina”. Textos, poder e política penal no Antigo Regime. Pp. 520 a 530 (somente). Disponível em: https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl# FIGUEIREDO, Luciano. Maquiavelianas brasileiras: dissimulação, ideias políticas e revoltas coloniais (Portugal, séculos XVII e XVIII). Revista Tempo | 2014 v20 | Dossiê Traduções de Maquiavel: da Índia portuguesa ao Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/1670/167031535018.pdf AGÜERO, Alejandro, "Clemencia, perdón y disimulo en la justicia criminal del Antiguo Régimen. Su praxis en Córdoba del Tucumán. Siglos XVII y XVIII", en Separata Revista de Historia del Derecho, No. 32, Buenos Aires, Instituto de Investigaciones de Historia del Derecho 2003, pp. 3-42. Perusset Veras, Macarena Comportamientos al margen de la ley: contrabando y sociedad en Buenos Aires en el siglo XVII Historia Crítica, núm. 33, enero-junio, 2007, pp. 158-185. 7. Corrupção como objeto da história BERTRAND, Michel. Grandeza y miseria del oficio - los oficiales de la Real Hacienda de la Nueva España, siglos XVII y XVIII. México: Fondo de Cultura Econômica, 2011. VILA, Núria Sala i. El “premio” de ser virrey - los intereses públicos y privados del gobierno virreinal en el Perú de Felipe V. Madrid: CSIC, 2004. 8. Corrupção e historiografia brasileira: abordagens HOLANDA, Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Disponível em: http://fjm.ikhon.com.br/proton/imagemprocesso/2013/07/EC3ED65F077EA3F500E4%7Dh_s_b_de_rz_br.pdf FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder - Formação do Patronato Político Brasileiro (13ª ed.). São Paulo, Globo, 1998. Prefácio à 2ª edição; capítulos 1 e 2 e capítulo final. 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